CONTATO: olhares.especiais.inclusao@gmail.com

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cegos e surdos reivindicam maior acessibilidade na internet

Gazeta Web
01/12/2010

Lei prevê obrigatoriedade de portais da administração pública serem acessíveis para uso das pessoas com deficiência visual

da Redação
Aos 15 anos, no auge da adolescência, quando costumava jogar bola, ir a shows e ver revista de mulher pelada, Roberto Cabral recebeu uma notícia que mudou sua vida: ficaria completamente cego. Ele, que nasceu com glaucoma - pressão intraocular elevada -, já não possuía a visão do olho esquerdo desde um ano e meio de idade e, segundo os médicos, seu caso era irreversível. Passados o susto e a aceitação da deficiência, o próximo passo de Roberto foi se adaptar. E, como ele, o principal desafio dos quase 30 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência - dados do IBGE 2000 -, no entanto, não é só a adpatação ao meio onde vivem, mas também, o meio se adaptar a eles. O virtual, inclusive.
Alfabetizado com visão monocular, Roberto Cabral, hoje com 39 anos, casado e pai de dois filhos que enxergam normalmente, aprendeu braille em 1987, ano em que participou ainda de aulas de orientação em mobilidade. "Foi um choque para mim porque eu não conhecia a experiência de uma pessoa cega. Essa surpresa me veio com a sensação de perda da liberdade", lembra o funcionário do Ministério Público de Pernambuco, acrescentando que achava impossível um dia aprender o sistema de leitura com o tato para cegos.
O servidor público, que mora em Campo Grande, Zona Norte do Recife, concluiu em 1990 o ensino médio na Escola Estadual Sizenando Silveira, no Centro da cidade, mesma época em que foi contratado por uma empresa terceirizada ao antigo Bandepe, onde ele fazia estágio de telefonista. Por "necessidade de se qualificar mais", prestou vestibular para direito na Faculdade Maurício de Nassau, sendo graduado em 2008.
Segundo Cabral, uma das maiores dificuldades que teve durante o curso e que continua enfrentando até hoje foi a falta de acessibilidade na internet para quem, como ele, possui deficiência visual. Apesar disso, o servidor público, que usa os sistemas de leitores de tela Jaws e DosVox, consegue utilizar o computador com independência. "Eu envio e recebo e-mails, acesso páginas da internet, faço pesquisas e baixo músicas", comenta. No entanto ele reclama que "nem todos os programadores fazem páginas acessíveis".
O mestrando em Ciência da Computação Lucio Poncioni, autor do estudo "Como a falta de acessibilidade na web pode afetar os portadores de deficiência visual", concorda com Roberto Cabral e explica que a grande parte dos webdesigners não está preparada para produzir sites voltados a pessoas com necessidades especiais.
Não apenas para deficientes visuais...
Fátima Azevedo, 42, possui deficiência auditiva progressiva e bilateral, juntando-se a um universo de cerca de 5,75 milhões de brasileiros surdos (IBGE 2000). "Nem sempre os vídeos ou áudios na internet têm legenda ou alguma outra alternativa de conteúdo visual", reclama a professora, que começou com o problema apresentando uma ligeira perda de audição, aos 12 anos, após um acidente de carro.
O Decreto Lei 5296, de 2004, também chamado "Lei da Acessibilidade", prevê a obrigatoriedade da acessibilidade nos portais e sites da administração pública na internet, para o uso das pessoas portadoras de deficiência visual, garantindo-lhes o pleno acesso às informações disponíveis, como é o caso dos sites da Caixa Econômica Federal e do Ministério da Educação. As páginas eletrônicas privadas, entretanto, não têm ainda uma regulamentação oficial, embora possuam manuais de acessibilidade que orientam uma melhor navegação para os deficientes.
Para Poncioni, "a acessibilidade inspira os programadores e, principalmente, os webdesigners a criarem layout para pessoas que talvez nunca poderão elogiar a beleza gráfica, mas, sim, a boa navegabilidade e usabilidade do produto". Um site acessível exclui tudo o que não pode ser lido pelos sintetizadores de voz ou que não está na documentação do WCAG 1.0 (Web Content Accessibility Guidelines 1.0), criado pela W3C (World Wide Web Consortium), consórcio internacional que visa desenvolver padrões para a criação e a interpretação de conteúdos para a Web. Segundo o programador, "devem ser removidas informações desnecessárias, como imagens, frames, iframes, animações em flash, janelas pop-ups, folhas de estilo e banners publicitários".

Nenhum comentário:

Postar um comentário