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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Na ponta dos dedos

Diário do Nordeste
Fortaleza - CE, 16/05/2011

Instituto Hélio Góes oferece educação infantil, ensino fundamental e reabilitação para pessoas com deficiência visual


Adriana Martins
Para muitas pessoas com deficiência visual em Fortaleza, a Sociedade de Assistência aos Cegos (SAC) é quase uma segunda casa. Seja como paciente do Hospital Alberto Baquit Júnior, como aluno da escola Instituto Hélio Góes ou como frequentador da Biblioteca Braille Josélia Almeida, entre outros espaços da instituição, é lá que se encontra a rede de apoio mais estruturada do estado. Inclusive, no que diz respeito ao acesso à cultura.

O Instituto Hélio Góes é uma escola curricular, reconhecida pelo Conselho Estadual de Educação, que oferece educação infantil, ensino fundamental e reabilitação, além de atendimento para pessoas com outras deficiências (cognitiva, auditiva, motora etc.) e cursos de braille voltado aos familiares dos deficientes visuais (com objetivo de ajudá-los a acompanhar o desempenho dos filhos). A Educação Artística inclui atividades da dança, teatro e música.

"São 10 alunos por sala, inclusive do Interior e alguns de boa visão. Na Reabilitação, o número de assistidos é grande, por isso há dias alternados para as atividades", esclarece a professora Andreia Barros. Além de receber doações, o Instituto se mantém com parte da renda do Hospital Alberto Baquit Júnior e da Unidade Oftalmológica Iêda Otoch Baquit (que atendem pelo Sistema Único de Saúde, particulares e por convênios).
Na escola, Andreia é responsável por um dos espaços mais privilegiados, a biblioteca - cujo acervo é composto por livros em formato tradicional, em braille e gravados em áudio. As temáticas vão desde a infantil até obras de preparo para Enem e concursos públicos.

Foi lá que, logo pela manhã, encontramos a aposentada Socorro Guedes Almeida, voluntária há mais de um ano da escola. Embora ocupada com uma pilha de livros para carimbar, esbanjou simpatia durante a entrevista. "É muito bom ser voluntária, servir ao próximo. Aqui a gente aprende tanta coisa, inclusive o exemplo vindo das pessoas com deficiência, e o amor dos funcionários pelo seu trabalho. Além de tudo, desenvolve os neurônios para evitar a esclerose", brinca.

"A tarefas dependem da necessidade. Às vezes catalogamos CDs e DVDs, encapamos livros. Uma vez por semana também participo do projeto Livro Falado, leio obras para gravação, que depois são escutadas pelos alunos e assistidos. Atualmente estou gravando um livro sobre igrejas do Ceará. Como é grande e as sessões duram apenas uma hora, devemos terminar até o final do ano", explica a voluntária.

Outro pequeno colaborador desse projeto é o aluno Juan Pablo, de oito anos, que tem cegueira total. Há dois anos ele é voluntário do projeto Curumim, no qual crianças realizam as gravações de obras escritas. Todo articulado, Juan explica que grava no estúdio do Instituto algumas vezes à tarde, depois das aulas. "Venho com a mãe de um colega ou de transporte. Escuto a história uma vez e regravo todinha. Eu escolho ou peço sugestão pra tia (professora)", conta.

"É importante, porque muitas crianças não têm condições de comprar os CDs. Por isso gosto de gravar, é bom fazer a alegria delas, a gente fica feliz também", explica, do alto da sua maturidade de quem está na alfabetização. "Estamos aprendendo letra V em Braille. É fácil, mas nas provas é mais difícil", diz.

Uma das histórias preferidas de Juan é a do Patinho Feio. "Mas mudei um pouco, coloquei o patinho bonito, porque feio ele era maltratado. Às vezes faço histórias sem pé nem cabeça", diverte-se, enquanto sai da biblioteca rumo à aula de música. "Estou aprendendo violão e piano, mas queria mesmo era tocar bateria", confessa o pequeno.

Atualmente o Curumins inclui 32 crianças voluntárias, de 4 a 12 anos, que são acompanhadas pelos professores durante as atividades. Normalmente são filhos de funcionários, voluntários ou assistidos. Nem todas fazem gravação, algumas ficam na biblioteca, contam histórias, organizam livros e brincam com outras crianças.

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