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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Benefício às avessas

Pesquisa diz que baixo índice de mortalidade infantil "ilude" sistema básico de saúde, o que provoca aumento de deficientes


Gazeta de Ribeirão
SP, 15/10/2010

Maria Carolina Freitas
O baixo índice de mortalidade infantil alcançado pelo Brasil nos últimos dez anos é responsável pelo aumento no número de crianças portadoras de deficiências. É o que indicam pesquisas realizadas nas Associações dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes) de Batatais, Altinópolis, Serrana e Limeira pelo médico geneticista e professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP) João Monteiro de Pina Neto. Ele afirma também que o Brasil está passando por um "boom" de nascimento de crianças com deficiências.
Segundo o médico, o baixo índice de mortalidade é responsável pelo crescimento do número de pessoas com deficiência porque o sistema de saúde brasileiro não o relaciona com a prevenção para uma gravidez saudável para a mãe e filho. A principal crítica do médico é com relação ao sistema de saúde básica. " Cerca de 45% das crianças que nascem com alguma deficiência poderiam ter sido diagnosticadas antes, se o pré-natal fosse de melhor qualidade."
No Brasil são realizados por ano 3 milhões de partos, e segundo dados do último Censo, existem no País 24,6 milhões de portadores de deficiência, ou seja, 14,48% da população. Em Ribeirão, 9,95% da população tem algum tipo de deficiência, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - 53,8 mil pessoas, ao todo.
Atualmente, a taxa de mortalidade registrada em Ribeirão é de 8,7 óbitos por cada mil crianças nascidas vivas. O valor é quase o mesmo do registrado nos Estados Unidos, por exemplo, que está entre 5 e 7 óbitos por mil crianças nascidas. Entretanto, o médico diz que a conquista não pode ser comparada. "A grande diferença está que lá (nos EUA) o número diminuiu acompanhado da prevenção. O pré-natal, o perinatal e o pós-natal são feitos e os pacientes recebem os cuidados necessários."
Solange Mathias Pereira, 44, é mãe de Iasmim, 5 anos, portadora de Síndrome de Down. A mãe diz que fez o pré-natal, mas que a doença não foi diagnosticada pelo médico. Solange já era mãe de três crianças e teve Iasmim com 37 anos. "A gente fica perdido, porque não sabe lidar com a situação, mas ela me surpreende sempre", afirmou.
União diz que pré-natal cresce
Em nota, o Ministério da Saúde informou que cada vez mais brasileiras fazem os exames pré-natal. Em 2009, foram realizadas 19,4 milhões de consultas do tipo - aumento de 125% em relação a 2003. "A ampliação ao acesso do pré-natal, o crescimento da atuação das equipes de Saúde da Família e a melhora da infraestrutura hospitalar foram fatores importantes para que houvesse queda na mortalidade materna no País", diz. Sobre a mortalidade infantil, o ministério disse que tem focado sua atuação para a redução da mortalidade neonatal por meio de medidas como a ampliação do acesso ao pré-natal, o aumento do número de leitos de UTI neonatal, entre outras medidas.
Coleta gera reclamações
O secretário municipal da Saúde, Stênio Miranda, disse que a correlação feita pelo médico precisa ser "melhor consolidada" e que o País avançou muito no serviço de saúde básica. "Em Ribeirão o programa de pré-natal realiza todos os exames preventivos e em 80% das gestantes cumpre o número mínimo de consultas, que são seis", disse. Além das consultas de pré-natal, Miranda diz que o município tem um programa de vacinação eficiente, assim como de amamentação. Entretanto, o médico afirma que a realização na cidade de um estudo como o do médico é "muito bom". "Acho importante conhecer as causas das deficiências, porque há aquelas que podem ser evitadas".

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