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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

SÍNDROME DE ASPERGER AFETA MAIS HOMENS


Jornal de Londrina
Londrina, 03/08/2011

Entre as dificuldades apontadas por pais de portadores da doença, estão o difícil diagnóstico e o preconceito no ambiente escolar

Amanda de Santa
A dificuldade de interação social, o interesse por assuntos específicos e comportamentos repetitivos são alguns sintomas da pouco conhecida Síndrome de Asperger. A doença, que faz parte dos Transtornos do Espectro do Autismo, afeta muito mais homens que mulheres. Especialista da área da educação e mães citam a dificuldade de diagnóstico e o preconceito, principalmente no ambiente escolar, como as maiores dificuldades enfrentadas pelo portador da doença e familiares.

O médico neurologista da infância e adolescência e professor do curso de pós-graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie, José Salomão Schwartzman, explica que a Síndrome de Asperger é causada por fatores genéticos e ambientais. "Não é incomum encontrarmos mais de um caso na mesma família", afirma o médico, em entrevista concedida por email ao JL. A doença afeta muito mais homens, na proporção de nove para cada mulher.

Apesar de fazer parte dos Transtornos do Espectro do Autismo, os doentes não apresentam deficiência intelectual. Por outro lado, possuem dificuldades de interação social e apresentam foco de interesse restrito, como em marcas e modelos de automóveis e história antiga, por exemplo. "Pela presença destas habilidades, às vezes extraordinárias, frequentemente são considerados superdotados", diz o neurologista. Os portadores da síndrome já nascem com a doença e, apesar de haver tratamento e possibilidade de melhora significativa do quadro, não há cura completa.

A professora Zuleika Aparecida Claro, de 40 anos, e mãe do Vitor, de 15, conta que desde os primeiros meses de vida do filho, percebeu que ele era diferente das outras crianças. Os sintomas chamaram mais a atenção dos pais quando ele foi para a escola, aos três anos. "Ele se isolava, tinha interesses diferentes". Daí, até o diagnóstico se passaram seis anos. "Perdi as contas de quantas escolas o Vitor passou", lembra. Zuleika conta que o filho sofria muito preconceito, inclusive dos professores.

Com o laudo médico em mãos, os pais foram reivindicar junto ao Núcleo Regional de Educação um professor de apoio em sala de aula. Vitor foi o primeiro aluno da rede estadual de Londrina a ter esse direito garantido. Quem o acompanha é a professora da Educação Especial, com formação em Psicologia, Angela Maria Piassa, da Unopar. Ela diz que esse trabalho é realizado na cidade desde 2009 e o atendimento aos portadores da Síndrome de Asperger é amparado por uma lei federal. Segundo Angela, existe uma grande dificuldade de diagnóstico médico na região de Londrina e, sem isso, o aluno não pode ter acesso ao atendimento especial.

Núcleo oferece atividades que promovem a socialização
Além de acompanhar o aluno em sala, com o objetivo de fazer a ponte entre ele e os colegas e professores, o Núcleo Regional de Educação também oferece algumas atividades na Sala de Recursos de Transtornos Globais de Desenvolvimento, que fica no Colégio Estadual Machado de Assis. Duas vezes por semana, fora do horário de aula, esses alunos contam com o apoio de professores especializados que trabalham a socialização, dificuldades do dia a dia, e oferecem estratégias de como se relacionar em cada ambiente.

Professores não sabem lidar com a doença, diz mãe
O interesse do filho da autônoma Caroline da Rosa Conceição Nascimento, de 29 anos, se restringe a filmes, videogames e computador. Para a mãe, além das dificuldades de diagnóstico médico, os problemas se estendem na área da educação. "Os professores não estão acostumados com essas crianças, não sabem como trabalhar com elas", justifica. Emanuel, de 13 anos, sempre foi mal na escola, mas as notas baixas nunca impediram que ele fosse aprovado de ano. "Eles são empurrados pela escola até onde dá".

Caroline descreve o filho como um menino calmo, quieto e muito franco. Ela diz que o filho sofreu muito bullying no ambiente escolar, reclamava muito e não conseguia se adaptar. "Achei que ele estava depressivo". Só depois do diagnóstico e do acompanhamento de um professor em sala de aula, Emanuel começou a melhorar as notas na escola. A professora de apoio Angela Piassa, diz que o acompanhamento se dá enquanto o aluno tiver necessidade. "É um trabalho apaixonante", resume.

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